Alunas do ensino básico desenvolverão pesquisas em nanotecnologia na UFSC

Equipes do projeto Nanoessência conhecem laboratórios de Química da UFSC. Foto: Malena Lima/Agecom/UFSC

O projeto Nanoessência – Nanotecnologia na química de perfumes e cosméticos: desafios da ciência em busca de igualdade e sustentabilidade, foi lançado em 8 de março, sábado, Dia Internacional da Mulher. A iniciativa coordenada pelas professoras Adriana Passarella Gerola e Anelise Maria Regiani, do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), guiará mais de 30 alunas dos níveis fundamental e médio do ensino público da Grande Florianópolis no desenvolvimento de cosméticos e perfumes. 

Estudantes a partir do oitavo ano do ensino fundamental poderão atuar em pesquisas sobre extração de óleos essenciais, síntese de moléculas odorantes, estudo de formulações de bases para cosméticos, entre outros. A pesquisa científica é aliada à perspectiva de elaboração de um produto cosmético que poderá ser lançado no mercado a partir da parceria com a empresa NanoScoping. As alunas irão aprender fundamentos da pesquisa, como coleta de dados, interpretação dos resultados, produção de materiais e relatórios. 

A iniciativa visa enfrentar os desafios da sub-representação feminina nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (science, technology, engineering and mathematics, STEM, sigla em inglês) e busca contribuir para o avanço da nanotecnologia e da sustentabilidade nos cosméticos e perfumes. A principal estratégia é a capacitação de professoras dos ensinos fundamental e médio, além do incentivo à formação científica e empreendedora, com o objetivo de despertar o interesse das meninas pelas ciências e fomentar a permanência de mulheres nas carreiras científicas. Ações de divulgação científica serão realizadas com o objetivo de levar o conhecimento sobre o projeto e seus benefícios à comunidade. 

Inclusão e enfrentamento de preconceitos

As docentes apontam a discriminação como a principal barreira no processo de inclusão de mulheres e meninas na pesquisa científica. “Ao promover a inclusão, fornecer apoio e desafiar preconceitos e estereótipos, pode-se trabalhar no sentido de criar uma comunidade científica mais equitativa e diversificada. Nesse sentido, este projeto é uma oportunidade para promover a equidade de gênero e criar um futuro mais promissor e igualitário nas ciências”, afirma Anelise. 

Serão realizadas discussões e atividades voltadas às questões de gênero e relações étnico-raciais na ciência, tendo meninas e mulheres como protagonistas no processo educativo e formativo. Com foco na valorização de modelos representativos de mulheres bem-sucedidas nas áreas de STEM, o projeto incluirá atividades de mentoria para aproximá-las da ciência e da nanotecnologia.

A sustentabilidade, articulada com a busca por equidade, é aspecto central do Nanoessência. “Lutamos para que o espaço da ciência também seja lugar de mulheres, brancas, negras, trans. Somente quando todas as vozes são ouvidas, nosso lugar torna-se sustentável. Temos muito a compartilhar. Além disso, queremos um lugar com um futuro melhor. Que nossa ciência possa produzir produtos melhores, amigos do meio ambiente, biodegradáveis, seguindo os objetivos do desenvolvimento sustentável e os princípios da química verde”, a professora enfatiza. 

Lançamento no Dia Internacional da Mulher

No lançamento do projeto, as equipes compostas por professoras e alunas de seis escolas se apresentaram. Rhayza Gonzaga, professora da Escola Quilombola Toca – Santa Cruz, do município de Paulo Lopes, manifestou ansiedade com o primeiro projeto de pesquisa e extensão na sua instituição, que possui um método de ensino diferente das tradicionais. “Nós utilizamos o conhecimento científico a partir da demanda trazida pela comunidade, junto com a tradição e o conhecimento ancestral”, explica. A equipe propõe a elaboração de cosméticos que utilizem algumas das mais de cem espécies de plantas conhecidas pela comunidade no território. Rhayza reforça a inclusão de meninas e mulheres na ciência ao apresentar a excepcionalidade de duas estudantes adultas, Angela e Luciana, em seu grupo. 

Além da apresentação, as equipes puderam conhecer laboratórios do Departamento de Química e aprender sobre equipamentos e pesquisas desenvolvidas na Universidade. As estudantes expressaram animação, como Maria Eduarda Flores, do IFSC, que agradeceu a oportunidade, já que pretende seguir carreira na área de química.  

A professora Adriana Passarella apontou o desafio de elaborar pela primeira vez um projeto que aliasse pesquisa e extensão. São 30 membros na equipe de pesquisa e divulgação científica que auxiliará as professoras e alunas da rede pública a desenvolverem produtos. O grupo conta com docentes, pós-graduandos e graduandos da UFSC, além de pesquisadores de outras instituições parceiras. 

Equipe do projeto Nanoessência, que conta com professoras e estudantes do Educação Básica e Superior. Foto: Malena Lima/Agecom/UFSC

Ampla rede de instituições

O projeto surgiu da proposta aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por meio da Chamada Pública CNPq/MCTI/Mulheres nº 31/2023. As professoras juntaram seus conhecimentos em nanotecnologia, pesquisa e divulgação científica: Adriana é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e atua na área de química orgânica, liderando o Grupo de Catálise e Sistemas Nanoestruturados; Anelise é uma das coordenadoras do Laboratório de Divulgação Científica em Química (Quimidex) e desenvolve trabalhos e pesquisas de divulgação científica, inclusão e acessibilidade.

“Por receber escolas no Quimidex e atuar no curso de Licenciatura em Química, estou sempre em contato com escolas e as professoras que recebemos. Então juntas delineamos uma proposta de trabalhar com nanotecnologia aplicada em cosméticos e perfumes”, explica Anelise.

As professoras formaram uma rede de instituições que conta com a UFSC, o IFSC, a empresa NanoScoping e a Universidade de Blumenau (FURB). As escolas participantes são a Escola Quilombola Toca, o Instituto Estadual de Educação (IEE), a EEM Jacó Anderle, a EEM Vereador Manoel da Conceição e a EBM João Alfredo Rohr. 

Estudantes do IFSC no lançamento do Nanoessência. Foto: Malena Lima/Agecom/UFSC

Estudantes de ensino superior e do pós-doutorado envolvidos em pesquisas em nanotecnologia e cosméticos em desenvolvimento no Departamento de Química colaborarão com as pesquisas nas escolas. As estudantes do ensino básico irão à UFSC desenvolver ações de pesquisa e participar dos eventos de integração e compartilhamentos. E as pesquisadoras da UFSC irão às escolas para acompanhar as pesquisas e atuar em ações de divulgação científica, com expertise em áreas como nanotecnologia, nanoformulações, fotoquímica, cosméticos, perfumes, formação de professores, e questões de gênero e etnicidade, contribuindo com o desenvolvimento multidisciplinar do projeto. 

Nanoessência terá duração de três anos e recebeu montante da ordem de R$ 930 mil, sendo a maior parte do recurso para a oferta de bolsas, com um pequena parcela sendo destinada a materiais de consumo para a realização das atividades. As professoras receberão bolsas de apoio técnico de nível superior e as estudantes, bolsas de iniciação científica júnior.  

Malena Lima [email protected]
Estagiária da Agecom | UFSC

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