Dez mil pessoas desapareceram em SC em três anos; adolescentes são maioria

Maioria dos casos envolveu adolescentes de 12 a 17, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Emili Anacleto sumiu em 21 de maio de 2014 em Jaraguá do Sul e ainda não foi encontrada (Foto: Arquivo pessoal)

Emili Anacleto sumiu em 21 de maio de 2014 em Jaraguá do Sul e ainda não foi encontrada (Foto: Arquivo pessoal)

Em três anos, mais de 10 mil casos de desaparecimento de pessoas foram registrados em Santa Catarina. Os dados constam no Mapa dos Desaparecidos no Brasil, lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública neste domingo (21), e que compila informações entre 2019 e 2021. Entre as vítimas, a maioria dos casos envolveu adolescentes de 12 a 17 anos. Para a polícia, a falta de comunicação ainda é o principal problema para a investigação dos casos.

De acordo com o órgão, o objetivo do documento é buscar ampliar o olhar da sociedade brasileira sobre o drama de familiares que, por muitas vezes, passam anos em busca de desaparecidos. O recorte apontou que, durante o período, mais de 200 mil pessoas desapareceram no país — uma média de 183 casos por dia.

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Em Santa Catarina, nos três anos, foram 10.865 registros. Ou seja, a cada dia, dez casos de desaparecimento foram notificados no Estado. Os números fazem parte de bases de microdados disponibilizados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública ao fórum.

Dos casos, a maioria foi de pessoas brancas (67,73%), adolescentes entre 12 e 17 anos (31,58%) e homens (60,28%). Porém, o delegado Wanderley Redondo, titular da Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas (DPP) de Santa Catarina, que as situações envolvendo adolescentes estão relacionadas ao registro, e não necessariamente ao fato do desaparecimento, já que na maioria delas ocorre o retorno para o lar, que não é notificado à polícia.

— Em caso de pessoas desaparecidas, o maior número são de homens maiores de 18 anos. Nos adolescentes ocorre que as vezes ele não para casa no horário estabelecimento e a família registra que ele desapareceu, mas não tem um desaparecimento de fato — pontua.

A mesma ponderação é feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo o levantamento, “os relatos dos entrevistados indicam que a investigação destes casos não é tida como prioridade pelas Polícias Civis, uma vez que compreendidos como ‘problema de família’”. No Brasil, 29,3% dos desaparecimentos ocorreram nesta faixa etária, seguida de pessoas 30 a 39 anos, com 18%, e de 18 a 24 anos, com 14,3%.

“Neste sentido, não apenas as causas, mas também as responsabilidades e possibilidades de solução são deslocadas para o interior das unidades domésticas. As famílias são vistas como “instâncias produtoras de desaparecimentos” em função da violência doméstica ou fruto da ‘rebeldia’ dos adolescentes. É comum, portanto, que a polícia, nesses casos, apenas faça o registro, sem que haja uma atuação policial”, pontua o documento.

Ao levar em conta os adultos, Santa Catarina segue a média nacional, com 18,2% dos registros de pessoas com idades entre 30 e 39 anos, e 13,8% entre 18 e 24 anos. Nestes casos, há um fator principal para o desaparecimento segundo a Polícia Civil: o consumo de álcool e drogas.

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Homens lideram perfil de localizados
O levantamento também traz informações sobre o número de pessoas localizadas no período. Ao todo, 11.610 desaparecidos foram encontrados em Santa Catarina entre 2019 e 2021. Entretanto, não é possível saber se as pessoas localizadas também desapareceram no mesmo período ou se ele ocorreu em anos anteriores. Além disso, também não é possível saber, dessa parcela, quantos foram localizados com vida.

O perfil segue no estado catarinense segue o mesmo que de pessoas desaparecidas: adolescentes entre 12 e 17 anos (33,2%), homens (58,8%) e brancos (70,7%).

A Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas foi criada em 2013 em Santa Catarina. Desde então, de acordo com o delegado Wanderlei Redondo, a taxa atual de resolução dos casos é de 90%. Atualmente, segundo o banco de dados estadual, 1.460 pessoas seguem desaparecidas. O número leva em conta, inclusive, casos que ocorreram antes da criação da delegacia e que datam das décadas de 1950, por exemplo.

Entre eles, está o de Emili Miranda Anacleto. A menina, que na época tinha 1 ano e 11 meses, desapareceu em 21 de maio de 2014 em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, após ser levada pelo pai da casa da mãe onde morava. Os dois eram separados e viviam em conflito, segundo a polícia.

No dia seguinte, o corpo do homem foi encontrado carbonizado dentro de um carro no interior de Barra Velha, município que também fica na região Norte. A menina, no entanto, nunca foi encontrada.

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Segundo Redondo, as investigações sobre o caso continuam. A polícia, inclusive, acredita que ela esteja viva. Outros detalhes, no entanto, não foram divulgados. Além dela, outras três crianças seguem desaparecidas no Estado.

Falta de comunicação é um dos problemas na solução dos casos
O delegado pontua que um dos problemas que atrapalha as investigações é a falta de comunicação nos casos. Isto porque, muitas vezes, a pessoa que fez o registro não costuma dar a baixa na delegacia em caso de retorno do desaparecido.

— O que torna difícil é que depois a pessoa não retorna na delegacia e não comunica a polícia sobre a volta do desaparecido. Tem que entrar em contato — pontua.

Além disso, ele salienta a importância de um cadastro nacional de desaparecidos, algo que ainda não existe no país. Em 2019, o governo chegou a sancionar a Lei da Política Nacional de Busca de Pessoas Desperecidas, que previa a criação de uma banco de dados. Mas a ideia não foi adiante.

Ao Fantástico, o Ministério da justiça informou que a previsão é de que esse sistema unificado até o fim do ano.

— Precisa de um cadastro nacional. Hoje, se é uma pessoa em situação de rua, ela pode constar a informação do desaparecimento em outro estado. Às vezes há troca de informação por whatsapp, com outros delegados, mas é complicado — diz o delegado.

Em caso de desaparecimento, a orientação é fazer um boletim de ocorrência em uma delegacia ou por meio da delegacia virtual. Também é possível informar ou solicitar informações de desaparecidos pelo SOS Desaparecidos da Polícia Militar pelos telefones: (48) 3665-4715, (48) 99156-8264 e (48) 98843-3152.

Os bancos de dados da Polícia Civil e da Polícia Militar tem dados de vítimas em Santa Catarina e são atualizados constantemente. Neles, é possível ter acesso ao nome das pessoas que estão desaparecidas no Estado.

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