Com 2 ataques e 9 mortes, SC tem promessa de vigilantes em escolas que não saiu do papel desde 2021


Estado garantiu, logo após a chacina em Saudades, há quase dois anos, que implementaria vigilância para intensificar a segurança em mais de mil unidades da rede estadual. Parque de creche onde houve ataque a Blumenau
Tiago Ghizoni/NSC
As escolas da rede estadual de Santa Catarina aguardam, há quase dois anos, o reforço de segurança prometido pelo Estado logo após o ataque a creche em Saudades, no Oeste de Santa Catarina, quando cinco pessoas foram assassinadas.
À época, o governo anunciou que colocaria vigilantes em mais de mil unidades e chegou a abrir licitação. A iniciativa nunca foi discutida com a categoria, que defende o retorno da figura do zelador ao invés de vigias, e não saiu do papel.
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Quase dois anos após a chacina, com um ataque desta vez em Blumenau, no Vale do Itajaí, a discussão sobre a contratação de guardas para as escolas volta à tona. Desta vez, quatro crianças foram assassinadas e o número de vítimas chega a nove.
Ouvida pelo g1, uma especialista afirmou que, embora vigias contribuam com a segurança, a violência deve ser combatida de múltiplas maneiras. “É preciso implementar uma gestão de cuidado com a vida”, disse (leia abaixo).
Ataque a creche em Santa Catarina deixa quatro crianças mortas
Proposta não saiu do papel
O processo de contratação dos profissionais chegou a ser aberto em agosto de 2021, mas por ausência de uma audiência pública, foi suspenso.
Segundo a legislação federal, é necessário a realização de audiências públicas para tratar licitações acima de R$ 150 milhões. Conforme a página do Portal de Compras do Estado, o valor do serviço seria de R$ 18 milhões por mês durante dois anos.
Questionado em 30 de março, uma semana antes do ataque a escola de Blumenau, o governo estadual afirmou ao g1 SC que “a licitação de vigilância humana está em andamento”.
No mesmo dia, a pasta informou que realizava estudos para novos processos, e disse que o Estado debate a necessidade de união de esforços das secretarias para o reforço da segurança.
Na quarta-feira (5), no dia do novo ataque, a reportagem voltou a questionar a secretaria sobre a conclusão da licitação, mas não retorno até a última atualização desta matéria.
1 ano após mortes, mais da metade das escolas de SC aguarda por vigilantes
Câmeras nas unidades e núcleo de prevenção
Na mesma nota enviada à reportagem em 30 de março, a Secretaria de Estado da Educação (SED) disse que escolas da rede estadual possuem cerca de 4 mil câmeras de vigilância no pátio e entrada que armazenam imagens por, no mínimo, 60 dias, além de sensores.
“Para reforçar ainda mais a segurança, a secretaria analisa um estudo técnico para ampliar esse monitoramento”.
Além disso, o currículo escolar trabalha com competências e habilidades que ampliam o respeito e a empatia na sociedade. As coordenadorias regionais também recebem apoio com psicólogos e assistentes sociais, que compõem o Núcleo de Prevenção às Violências Escolares (NEPRE).
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Sindicato pede melhorias
Coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte-SC), Evandro Accadrolli afirma que é preciso fazer um debate sobre a violência feita por radicalizados contra escolas para “transformar o discurso de ódio em discurso de paz”.
O gestor defende também que a segurança deve ser feita pela comunidade escolar e defendeu a volta da figura do zelador.
“Não acreditamos em portas giratórias que ficam impedindo a entrada de metal. Nesse caso, por exemplo, a pessoa pulou o muro. [Defendemos] um acompanhamento da polícia, da inteligência, para encontrar movimento nas redes sociais de grupos extremistas”, afirmou.
Especialista defende ações múltiplas
De acordo com a fundadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Violências (NUVIC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ana Maria Borges de Sousa, a presença de vigilantes ou a policiais nas escolas em uma lógica de “criar personagens que fazem a repressão” pode auxiliar no combate das violências, mas não é suficiente.
Segundo a especialista, é necessário políticas públicas, com o auxílio da comunidade escolar, gestões e governos para incentivar uma cultura de direitos humanos e de direito à vida.
“A gente precisa incentivar nas escolas, nas famílias nas instituições uma cultura de direitos humanos e de direito à vida. É preciso implementar uma gestão de cuidado com a vida” explica.
Dois ataques, 9 mortos
O ataque a creche de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, aconteceu em 4 de maio de 2021. Um homem, que aguarda julgamento, matou duas professoras e três bebês.
Keli Adriane, Sarah Luiza, Anna Bela, Murilo Massing e Mirla Renner são as vítimas do atentando a creche em Saudades (SC)
Reprodução/Redes Sociais; Reprodução/NSC TV
Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, era professora e dava aulas na unidade havia cerca de 10 anos
Mirla Renner, de 20 anos, era agente educacional na escola
Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses
Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses
Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses.
Quase dois anos depois, um ataque foi registrado em Blumenau, no Vale do Itajaí. O crime aconteceu no início da manhã na creche Cantinho Bom Pastor, que fica na rua dos Caçadores. A unidade de ensino é particular e as vítimas têm entre 4 e 7 anos. Cinco crianças se feriram.
Enzo Barbosa, Larissa Toldo, Bernardo Machado e Bernardo Pabst , em sentido horário começando no canto superior esquerdo
Reprodução/Redes sociais
Bernardo Cunha Machado – 5 anos
Bernardo Pabst da Cunha – 4 anos
Larissa Maia Toldo – 7 anos
Enzo Marchesin Barbosa – 4 anos
Blumenau, Florianópolis e outras cidades reforçam segurança
Após o ataque, a prefeitura de Blumenau anunciou que instalará 125 câmeras de segurança em todas as escolas e Centros de Educação Infantil (CEI) do município. As câmeras de segurança serão conectadas à Central de Controle Operacional (CCO) do município. O município, até o início da tarde de quinta, avaliava o reforço de policiais militares nas escolas.
Em Florianópolis, Capital de Santa Catarina, a prefeitura anunciou que faz uma varredura nas escolas municipais para fazer melhorias de segurança nos ambientes. Além disso, uma linha direta entre comunidade escolar e forças de segurança está sendo criada.
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