Prefeito cassado e vice deixam prefeitura de Brusque

Na manhã desta segunda-feira, 08 de maio, o prefeito cassado de Brusque, José Ari Vequi, e o vice, Gilmar Doerner, fizeram seus últimos pronunciamentos oficiais.

No ato de passagem de governo para o agora, prefeito interino, André Vech, os ex-chefes do Executivo deixaram claro o sentimento de injustiça quando receberam oficialmente a decisão judicial.

Esta foi a primeira vez que os políticos se manifestaram deste a sessão do TSE, realizada na última quinta-feira 04 de maio, que cassou o mandato do prefeito e do vice Gilmar Doerner, por abuso de poder econômico nas eleições de 2020.

O sentimento é de injustiça, mas entendemos e respeitamos a decisão. Posso dizer a vocês que fizemos o melhor. Realizamos cerca de 60% do compromisso assumido nas urnas. Agradeço a todos que participaram do pleito. Agradeço a população brusquense pela confiança”.

 

Gilmar Doerner, ex-vice prefeito de Brusque

 

 

EMOCIADO

 

Visivelmente emocionado, José Ari Vequi foi o segundo a falar durante a cerimônia de transferência de governo na manhã desta segunda.

Foto: Marcelo Gouvea/Portal da Cidade Brusque

Não está sendo fácil. Hoje estou deixando dignamente o exercício do cargo público de prefeito de Brusque, em razão de uma determinação judicial que considero injusta.

Quero agradecer a todos, o secretariado, os vereadores, servidores municipais … Não é fácil o que estamos passando.

Com mais de 25 mil votos, deixamos a prefeitura com as mãos limpas. Fizemos muito nestes seis anos e quatro meses de mandato. Assumimos a prefeitura sucateada, com graves problemas. Realizamos muitas entregas como parte da revitalização da Antônio Heil.

Me sinto injustiçado, mas faço questão de cumprir a determinação judicial. As minhas mãos estão limpas. Saio com a cabeça erguida, pela porta da frente e com a consciência tranquila.

Quero agradecer a toda população de Brusque que sempre nos apoiou.

 

 

José Ari Vequi, ex-prefeito de Brusque.

ENTENDA O CASO

Os diretórios municipais dos partidos Podemos (PODE), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido Verde (PV) ingressaram com Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) contra a Coligação “Brusque Mais Forte”, o empresário Luciano Hang e os candidatos a prefeito e vice-prefeito no município catarinense.

 

Foto: TSE/divulgação

Os autores do processo alegaram abuso de poder econômico e afirmaram que Hang teria realizado divulgação, em massa, de vídeos no Instagram, em prol da candidatura dos então candidatos. Segundo os autos, as mídias teriam sido gravadas no interior dos estabelecimentos empresariais, contando com entrevistas de funcionários e fornecedores, bem como com utilização de logomarca e bens da empresa Havan em favor dos concorrentes ao cargo.

O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) entendeu que não havia provas suficientes para desabonar a regularidade da disputa eleitoral e o equilíbrio do pleito, pontuando que as postagens não foram impulsionadas pelos candidatos investigados e que as manifestações do empresário se trataram de exercício da liberdade de expressão.

No TSE, o caso ficou sob a relatoria do então ministro Ricardo Lewandowski que, em sessão virtual, negou seguimento ao pedido para que recurso fosse analisado pelo Plenário. Entretanto, voto-vista do ministro Alexandre de Moraes levou à alteração do resultado do julgamento. Moraes foi seguido pelos ministros Benedito Gonçalves, Cármen Lúcia, Sérgio Banhos e Carlos Horbach. Ficaram vencidos Lewandowski e Raul Araújo.

DINÂMICA DA VOTAÇÃO

 

Ao abrir a divergência, o presidente do TSE afirmou que houve transgressão à jurisprudência do Tribunal a partir da utilização da estrutura das lojas na campanha eleitoral. Para Moraes, ocorreu quebra da isonomia e abuso de poder econômico, com imagens claras de assédio eleitoral aos funcionários e aos fornecedores da empresa de Hang. “Houve uma tentativa de fazer confusão entre pessoa física e pessoa jurídica, colocando a força da empresa na cidade de Brusque contra a outra candidatura, inclusive com desinformação, com fake news e com várias notícias falsas, pedindo voto”.

O ministro esclareceu ainda que a decisão não buscou impor limitações à livre manifestação de pensamentos em decorrência do posicionamento político de um eleitor, seja empresário ou trabalhador. “Não foi do que se tratou aqui, quando se utilizou toda a estrutura de uma empresa com campanha publicitária feita por meio das redes sociais para apoiar determinada candidatura”, elucidou Moraes.

Ao acompanhar a divergência, a ministra Cármen Lúcia afirmou que o abuso do poder econômico se manifestou no caso de várias formas. Ela destacou que houve uma ação contínua que está devidamente comprovada e que a legislação brasileira não aceita o impulsionamento negativo nas redes sociais.

Cármen Lúcia reforçou que há que se pensar em impulsionamentos negativos, proibitivos, que não sejam apenas os tecnológicos, mas, também, aqueles que interfiram na vontade de algumas pessoas expressarem livremente o seu voto, exatamente pela força de personalidades e de empresas que atuam de forma nem sempre subliminar. “Se cuida, aqui, sim, de um caso em que há abuso na atuação e a consequente quebra de isonomia entre os candidatos”, finalizou.

 

NOVAS ELEIÇÕES

 

Conforme prevê o artigo 224 (parágrafo 3º, inciso I) do Código Eleitoral, os eleitores de Brusque deverão voltar às urnas para escolher novos integrantes para o cargo de prefeito e vice-prefeito.

Foto: Internet

De acordo com a regra, após decisão da Justiça Eleitoral pela cassação do mandato conquistado em pleito majoritário, deverão ser realizadas novas eleições (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015 – Vide ADIN Nº 5.525).

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