Canos rompidos, quartos sem cortina: a estrutura comprometida no Hospital Regional de São José

Pacientes nos corredores, pilares do prédio degradados, obras inacabadas, falta de acessibilidade nos banheiros e defeito nas persianas nos leitos dos pacientes internados. Este é o cenário que o HRSJ (Hospital Regional de São José) se encontra. O prédio é um dos seis hospitais alvos do decreto em situação de emergência em saúde pública, publicado no dia 28 de março de 2023.

No Hospital Regional de São José, pacientes estão realocados nos corredores por conta da falta de leitos para atender à demanda – Foto: Lorenzo Dornelles/ND

Uma das principais referências para atendimentos de alta complexidade em toda a região, o Hospital Regional de São José é o maior da Grande Florianópolis, com um pouco mais de 27 mil m² de área.

Para atender toda a estrutura, o Regional conta com cerca de 1.700 funcionários efetivos e mais de 500 terceirizados. De acordo com o diretor do Regional, Daywson Koerich, o maior problema do hospital não é o atendimento e, sim, a estrutura predial, que já é antiga e desatualizada.

É o caso do encanamento, por exemplo, cuja tubulação que está no subsolo existe desde a construção do prédio. “O que fazemos hoje é apagar incêndio. Todos os dias temos rompimento de cano pontualmente e temos que passar aqui para fazer a substituição dos antigos canos de cobre pelos tubos PPR”, diz Koerich.

Banheiros sem água quente e obras inacabadas

É comum que o cano de cobre seja corroído pela água, causando furos e rachaduras na tubulação, acarretando nos vazamentos mostrados pelo diretor Daywson Koerich. E esse escoamento afeta diretamente na chegada de água quente nos chuveiros dos pacientes internados. Portanto, ao trocar a tubulação atual pelos canos de PPR, além de não sofrer o processo de corrosão, melhora a condução da água quente até os ambientes do prédio.

“Normalmente costuma faltar água quente em horários comuns de banho, então precisamos trocar toda a tubulação justamente para que não falte em nenhum horário do dia e para prevenir esses vazamentos.”

Outro problema do hospital apontado pelo diretor são as obras inacabadas. Ele revela que a empresa que ganhou a licitação para a realização da troca de todo o encanamento e também da construção de uma nova ala de UTI abandonou as obras pela metade.

“Essa empresa veio e ficou durante o período de um ano, que encerrou dia 9 de março de 2023. Porém eles não conseguiram terminar as obras que deveriam executar e deixaram tudo pela metade”.

Isso fica bem claro quando, no meio do corredor de atendimento, há um espaço separado por faixas, informando que havia uma obra ali. A intenção da nova gestão do Regional é executar novas reformas e levar a UTI para o espaço.

Dados mostram série histórica de repasses do governo de SC para a saúde. – Foto: Leandro Maciel/ND

“A UTI está ocupando uma área extremamente sensível, que é a emergência geral. A ideia é que possamos, em razão deste decreto, conseguir terminar esta obra, que terá dez leitos”, detalha Koerich.

A equipe de reportagem procurou saber sobre quantas obras foram realizadas desde a inauguração do hospital, assim como os investimentos em cada melhoria. Porém, a diretoria não conseguiu informar esses dados. A Secretaria de Saúde também foi procurada, mas ainda não respondeu até a publicação desta reportagem.

Pacientes relatam dificuldades

“Estrutura não tá dando conta”: pacientes da Grande Florianópolis lidam com leitos comprometidos no HRSJ O problema apontado pelo diretor é notado por Rodrigo Alves, que estava em observação no corredor. “Eu moro na Palhoça, e lá não tem hospital. Então preciso vir para cá para conseguir me consultar.

É o mesmo caso de uma outra moça com quem conversei e está aqui também. Então pessoas de municípios vizinhos vêm para cá, causando esta superlotação. E é uma estrutura que acaba não dando conta, né”, afirma. No entanto, apesar da dificuldade e da condição em que estava, Alves relata que é grato por conseguir ser atendido.

“Eu tenho que agradecer que ainda posso ser atendido aqui. É o que temos e é o que necessitamos”. O 5° andar do prédio, na ala B, é voltado para recuperação de pacientes vindos da ala cirúrgica ortopédica. Koerich informou que a área não passa por reformas há quase dez anos e os problemas apontados pelo diretor foram vários.

O diretor do HRSJ, Daywson Koerich, acompanhou a equipe do Grupo ND na visita. – Foto: Jonata Machado/Reprodução NDTV

“Essa ala padece de algumas melhorias. Os pisos estão afundando, precisando de restauração, e como estamos falando de uma ala em que os usuários costumam ficar de cadeira de rodas, acaba gerando dificuldade na locomoção. Também temos problemas com as paredes, que estão com infiltrações causadas pelas chuvas; as persianas que estão aqui há quase 40 anos e, por causa do tempo, já não fecham mais, atrapalhando o descanso dos nossos pacientes”, ressalta.

Em vários quartos, as janelas estavam com lençóis do próprio hospital, uma maneira de as pessoas improvisarem para evitar a claridade dentro dos leitos.

Setor pós-cirúrgico não tem acessibilidade

No entanto, a questão que mais se destaca é a falta de acessibilidade nos banheiros dos pacientes. James Marcelo Martins está se recuperando de uma cirurgia na barriga e, portanto, necessita de cadeira de rodas para circular no ambiente hospitalar.

Ele indicou um problema grave, também destacado por Koerich: a falta de espaço para a cadeira de rodas dentro do banheiro. Ele demonstrou para a equipe a tentativa falha em entrar no ambiente sem o instrumento.

“A partir daqui eu tenho que entrar pulando e me segurando pelas paredes.”

Martins já passou por 18 cirurgias e, dessas, oito foram realizadas no Regional.

“O tratamento é muito bom só que outro problema é não ter pegador no box do banheiro, então a qualquer momento posso escorregar e cair. Para usar o vaso sanitário é a mesma coisa, também não consigo me escorar porque não tem onde pegar e posso cair”, relata Martins.

Equipe do NDI acessou o subsolo do HRSJ, onde os problemas na tubulação são preocupantes. – Foto: Jonata Machado/Reprodução NDTV

Um problema leva a outro

Conforme o diretor, o número mensal de atendimentos de emergência chega a uma média de até 15 mil. Já o número mensal de consultas no ambulatório chega a 13 mil.

Além disso, cerca de 2.000 pessoas passam por cirurgias no local e 1.400 ficam internadas. Esses números afetam diretamente no dia a dia do hospital e na disposição dos pacientes que chegam, muitas vezes, a ficar nos corredores.

“Precisamos ter leitos de estabilização aqui embaixo e não temos porque a UTI que deveria ser transferida para o novo espaço está aqui. São quase 20 leitos que serviriam para deixar esses pacientes em observação. A hora que a UTI mudar de local, já vamos ganhar um novo espaço para acomodá-los melhor”, garante.

Eram mais de 15 pessoas em cima das macas nos corredores no dia em que a equipe visitou o hospital. Koerich conta que esses pacientes ainda não estavam internados, mas que ficavam fazendo exames enquanto a equipe avaliava se eles deveriam subir para a internação ou não.

“Grande parte deles que ficam aqui (nos corredores) vêm da emergência. E entendendo que estamos em um cenário epidemiológico de dengue, tem pessoas que são encaminhadas de outros municípios para cá, principalmente do tipo C e D”.

Decreto deve acelerar processo para a realização de obras nos hospitais

O diretor e toda a equipe hospitalar estão cientes de todas as obras e melhorias que devem ser feitas. Segundo a Secretaria do Estado da Saúde (SES), sob liderança de Carmen Zanotto, a publicação do documento facilita a realização de contratação de serviço e aquisição de itens de reparo e obra de ampliação de forma mais ágil. Koerich relatou que Carmen esteve no local para entender a real situação do prédio.

“Nós mostramos para ela como estava a estrutura do hospital. Foi aí que ela disse que precisava agir imediatamente. Em seguida, ela já sentou com o governador Jorginho Mello (PL) e fizeram o levantamento em outras unidades. Eles entenderam a necessidade de decretar situação de emergência para conseguirmos acelerar estas obras”, afirma Koerich.

A partir de agora, o Estado tem um desafio. Desde o dia 28 de março, as ações já devem começar a ser implementadas e todas as melhorias executadas em 180 dias, ou seja, em 6 meses. No entanto, com todos os problemas estruturais apontados na reportagem, as obras deverão ser efetuadas sem que os hospitais parem de funcionar e respeitando o prazo imposto pelo decreto.

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