Pacientes nos corredores e mais de 100 mil à espera de cirurgia: como fazer a fila andar em SC?

“A reforma não terá a previsão de aumento significativo de leitos, trata-se de uma recuperação estrutural”, garante o diretor do HGCR (Hospital Governador Celso Ramos) Michel Faraco.

O orçamento das reformas no HGCR ainda está sendo levantado junto aos fornecedores, portanto não há uma previsão de quais obras serão feitas ou quanto será investido.

Trata-se de um emergencial ‘primeiro passo’ nos pontos mais críticos da saúde catarinense – onde as carências estruturais trazem sérios riscos.

HGCR tem longas filas de espera e pacientes realocados nos corredores – Foto: Marcelo Feble/Reprodução NDTV

Para Faraco, um cenário que chegou neste ponto indica sérias falhas de manutenção ao longo do tempo, em uma estrutura que já é antiga – dos anos 60.

“O hospital é vivo 24 horas por dia, 7 dias por semana. Nunca fecha. Por isso é muito importante que seja dada muita atenção à manutenção. O que a gente consegue diagnosticar é que uma estrutura que chega nessas condições certamente houve algum grau de abandono da edificação hospitalar”, diz.

As reformas são fundamentais também para tentar amenizar um outro gargalo na saúde pública do Estado: a fila das cirurgias eletivas.

Atualmente, são mais de 105 mil pessoas esperando. O Hospital Governador Celso Ramos é referência em cirurgias na Grande Florianópolis, onde são realizadas mais de 1.200 por mês.

“A demanda é sempre mais alta do que podemos oferecer”, admite o diretor Michel Faraco.

Por lá, são 11 especialidades cirúrgicas: angiografia, bucomaxilofacial, cabeça e pescoço, cirurgia geral, neurocirurgia, cirurgia plástica, cirurgia torácica, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia e urologia.

O plano de ação emergencial no hospital é fundamental para salvar a unidade de problemas mais drásticos, mas conforme a visão de Faraco,  é preciso também promover mudanças de funcionamento.

Vai ser preciso “fechar a porta”?

O diretor Michel Faraco explica que, hoje, 60% dos atendimentos realizados no HCGR poderiam ser feitos em outros locais.

“O Celso Ramos deveria ser referência para traumas, neurocirurgias, urologia… essas condições de dengue, por exemplo, que chegam inicialmente, a gente poderia ter mais próximo da atenção primária de saúde, em postos ou na UPA”, diz.

Segundo ele, esse é um dos principais fatores para explicar a superlotação no hospital.

“A gente tem pacientes de alta complexidade aqui. Para aqueles que não necessariamente deveriam estar no hospital, a gente precisa fazer algum grau de orientação à comunidade. Todo mundo vem para cá, aqueles menos urgentes acabam esperando mais”, diz.

Faraco destaca que a cena dos corredores lotados é uma “consequência da necessidade de readequação do paciente até a porta de entrada”.

“Quando ele não consegue ter alguma atenção em diferentes pontos fora do hospital, vai acabar vindo pra emergência, porque aqui ele imagina que vai ter o médico especialista, a tomografia, ressonância… é como se fosse uma facilidade a mais ter essa porta de entrada. Mas tem coisas que ele poderia resolver no centro de saúde. Florianópolis também tem o Alô Saúde, as UPAs. Mas às vezes é um hábito cultural. É muita procura, mas não deixamos de acolher”, relata o diretor.

Existe um sistema de classificação de risco dos pacientes que chegam no hospital, separado por cores.

O vermelho, considerado “prioridade máxima”, tem atendimento imediato. Laranja é “prioridade alta”, e a espera pode levar 15 minutos. Amarelo é “prioridade média” e a espera é de 1 hora. Já o nível verde, “prioridade baixa”, a espera pode chegar a 2 horas. Por fim, o azul é a ‘“prioridade mínima”, com espera de 4 horas.

“É difícil, no meio dessa demanda com tantas pessoas, trazer aqueles que precisam de cirurgias e fazer a fila andar”, admite o diretor Michel Faraco.

Saúde municipal está preparada para aumento de demanda?

Pela iminência de início de obras e uma grande necessidade de tirar os pacientes da fila das cirurgias em Santa Catarina, existe uma tendência que o HGCR (assim como outros hospitais da região) fechem cada vez mais a ‘porta de entrada’ para atendimentos do ‘nível médio’ para baixo.

No Celso Ramos, Faraco explica que enquanto as obras estiverem em andamento, leitos de UTI e cirurgia, por exemplo, terão que ser readaptados.

“A gente não pode fechar o hospital. Vamos ter que readequar algumas áreas, dar um jeito. Por isso é tão importante que a demanda de casos mais leves diminua”.

Essa ação, no entanto, depende de uma ampla e bem coordenada organização envolvendo também a saúde municipal.

O Núcleo de Dados do Grupo ND questionou a Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis se houve diálogo com o Estado e se há preparação para absorver uma maior demanda de pacientes de baixa complexidade. No entanto, não houve resposta até o fechamento desta reportagem.

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