Entenda por que as tainhas estão demorando para chegar a Santa Catarina neste ano

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tainha (Foto: Tiago Ghizoni/NSC Total)

Para que a temporada seja boa e os cardumes cheguem no Estado é necessário um ritual climático específico

A pesca da tainha em Santa Catarina tem registrado, neste ano, números baixos em relação a última temporada. Em Florianópolis, por exemplo, a soma de pescados até esta terça-feira (6) representam quase 20 mil a menos do que o registro da mesma data de 2022. A situação é associada aos efeitos climáticos somados à degradação dos ambientes costeiros, conforme avaliam especialistas.

Para que a temporada seja boa e os cardumes cheguem no Estado é necessário um ritual climático específico. Os peixes, que saem do Sul do Brasil, encostam no Litoral catarinense com a ajuda do vento sul — os cardumes aproveitam as correntes marítimas das frentes frias para desovar em águas costeiras mais quentes, como é o caso de SC. Se a direção do vento, porém, não for como o esperado, a pesca é atrapalhada pelo número baixo de tainhas, que não conseguem costear o litoral do Estado.

Conforme o presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc), Ivo Silva, baixo número de pescados é causado pela falta de vento sul e frio no litoral. Circunstância confirmada também pelo secretário executivo da Aquicultura e Pesca, Tiago Bolan Frigo, que afirma ser as temperaturas quentes o principal fator para o baixo registro em 2023.

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O oceanógrafo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta, associa a fraca temporada à degradação dos ambientes costeiros, que juntamente com o processo de aquecimento do Atlântico, cria um cenário pandêmico em todas as regiões, inclusive com outras espécies de peixes.

A pesca da tainha no Sul do país, em especial em SC, ocorre no exato momento de reprodução da espécie, o que, conforme explica, dificulta a procriação e a coloca em processo de extinção.

— Todo um conjunto de fatores, desde a poluição costeira, degradação dos estuários, ocupação da linha de costa, tudo isso vai produzindo uma série de impactos que junto com a pesca acaba fragilizando a população da espécie — explica o oceanógrafo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta.

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A temporada da tainha tem início em Santa Catarina em 1º de maio com a pesca de arrasto de praia — feita por comunidades que em embarcações pequenas jogam uma rede de cerco para pegar os animais em um “saco”. A rede, assim que o cardume é capturado, é arrastada manualmente pelas extremidades até a areia da praia. Em Florianópolis, nesta modalidade foram capturadas até o momento 38,2 mil tainhas. O número, em 2022, se aproximava dos 60 mil, na mesma data.

Existem outras duas modalidades: pesca anilhada e industrial. A atividade anilhada ocorre também com uma rede, porém, ela se fecha no momento da captura. Essa modalidade teve a cota diminuída em 68% esse ano em uma medida publicada pelo governo federal. Ela tem início em 15 de junho e, até então, registrou 33 toneladas de pescados em toda SC — registro longe do autorizado pela portaria. O número total deve ser, conforme o documento, de 460 toneladas para todo o Estado.

Já a pesca industrial foi proibida no Estado. O governo de SC tenta reverter a situação, e precisou entrar na Justiça contra a medida. Nesta segunda, um pedido de revisão do texto feito pelo Sindipi foi negado pelo Tribunal Regional Federal (TRF4). A Justiça julga agora a ação protocolada pelo governo.

Caso a modalidade siga proibida, prejuízos de R$ 10 milhões podem ser registrados no Estado, conforme divulgou o NSC Total.

— A tainha é um patrimônio cultural catarinense e [a portaria que proíbe a pesca industrial] não é um problema apenas para a questão cultural, ambiental e social, é um prejuízo econômico. Inclusive pelo emprego desses pescadores — afirma Tiago Bolan Frigo, secretario executivo da Aquicultura e Pesca de SC.

A temporada da tainha se encerra em SC no dia 31 de julho. Segundo os pescadores, porém, a partir do dia 15 a chegada das tainhas no Litoral já começam ao ocorrer com menos frequência.

— Dependemos de fatores climáticos, claro, mas não podemos perder a esperança de uma melhora agora em junho — conta Luis, pescador do Moçambique.

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