Wilmar Dallanhol, agente e testemunha do progresso de Santa Catarina

Natural de Videira, 82 anos, o ex-professor, deputado e funcionário público Wilmar Dallanhol exibe um vasto currículo de serviços prestados a Santa Catarina. Foi diretor financeiro da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) com apenas 22 anos. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em 1963, presidiu o DCE (Diretório Central de Estudantes) e a Federação Catarinense de Estudantes.

Wilmar Dallanhol é ex-professor, deputado e funcionário público – Foto: Leo Munhoz/ND

Depois de formado, lecionou economia na UFSC, onde foi professor do senador Esperidião Amin e do ex-deputado Miguel Ximenes, entre outros políticos. Atuou como assessor técnico do governo do Estado entre 1962 e 1970, representou o Estado junto ao Codesul (Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul) e exerceu a função de assistente técnico no Badesc (Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina).

Foi deputado federal em duas legislaturas (1971-1974 e 1975-1978). Também lecionou na Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) e presidiu a Eletrosul (Centrais Elétricas do Sul do Brasil). Foi conselheiro e presidente do TCE-SC (Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina), onde se aposentou em 1985.

Publicou os livros “Integração do oeste catarinense” (1960), “A indústria catarinense e seu financiamento” (1962), “Programação regional” (1964), “Financiamento do desenvolvimento” (tese, 1965), “Introdução à economia” (1966), além de artigos, discursos e projetos técnico-econômicos.

Casado com Olga Maria Broering (que morreu em maio passado) durante 57 anos, tem duas filhas e três netos.

Acompanhe a entrevista do ND com Wilmar Dallanhol

Ainda muito jovem, o senhor exerceu vários cargos públicos e quando entrou na política foi direto para o Câmara dos Deputados, sem ter sido vereador ou passar pela Assembleia Legislativa. Fale um pouco de sua carreira.

Comecei a estudar em Videira, depois fui para Porto União e mais tarde me transferi para Florianópolis. Aos 22 anos, já era diretor da Celesc, empresa onde permaneci durante quase nove anos. Em 1970, me candidatei a deputado federal e tive votos em todos os municípios de Santa Catarina.

Naquele tempo, não havia propaganda em televisão, mas fui um dos seis mais votados na eleição para a Câmara, com menos de 30 anos de idade. Na Câmara dos Deputados, fui presidente de várias comissões, entre elas as de Minas e Energia, Economia, Desenvolvimento da Região Sul e Trabalho e Legislação Social. Fiz parte da comissão que criou a Itaipu Binacional e ali defendi, pensando no potencial de crescimento de Santa Catarina, maior participação do Estado da divisão da energia a ser gerada pela usina.

Antes disso, havia feito concurso para professor de economia na Faculdade de Direito, depois trabalhei na Faculdade de Educação e mais tarde lecionei economia política também no curso de Direito. Já era diferente do começo da carreira, quando dava aulas para sobreviver, em cursos preparatórios para o acesso à universidade.

Depois, na Celesc, conciliava as aulas com o trabalho intensivo, mas era jovem e aguentava jornadas longas e extenuantes de trabalho.

Wilmar Dallanhol foi diretor da Celesc aos 22 anos e atuou na política catarinense – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação/ND

O senhor atuou na política estudantil e quase simultaneamente passou a trabalhar em órgãos de governo. Foi uma transição bastante rápida…

Na política estudantil, lembro de ter feito parte da chamada Terceira Força, que surgiu como alternativa a dois grupos que vinham se confrontando até então. Vencemos nos diretórios de todos os centros acadêmicos.

Era a virada dos anos 1950 para 1960, e mantivemos um jornal que circulava na universidade, criamos o RU (Restaurante Universitário) e a Casa do Estudante. De fato, comecei muito cedo a vida profissional.

Sou o único sobrevivente da equipe de diretores que criou o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). Também atuei no Codesul, representando Santa Catarina quando apenas o governador do Estado e mais uma pessoa tinham assento nas reuniões.

Era o governo de Celso Ramos, e o grande professor, advogado e economista Alcides Abreu era o nosso mentor. Celso Ramos promoveu uma verdadeira revolução em todos os setores em Santa Catarina.

Como foi ter participado daquela gestão?

Celso Ramos mudou completamente o Estado. Foi por meio dele que fui para a Celesc, então a maior empresa de Santa Catarina. Quando estava lá, fui um dos indicados para fazer um curso sobre desenvolvimento na ONU (Organização das Nações Unidas), onde fiquei em primeiro lugar entre os alunos.

Eu pertencia ao grupo de liberais que defendia a descentralização da economia, em contraponto com o grupo que pregava uma economia centralizada, com base nas estatais.

Na política, meu vínculo era com o PSD (Partido Social Democrático), que foi extinto no bipartidarismo, em 1979, dando origem à Arena (Aliança Renovadora Nacional) e ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Fui um dos fundadores da Arena, que continuou ativa até a lei que permitiu a criação de novos partidos.

Depois, ajudei a fundar o PFL (Partido da Frente Liberal), agremiação que presidi durante seis anos em Santa Catarina.

A partir de Celso Ramos, o Estado teve um crescimento extraordinário. A Celesc, que atendia 22 municípios, passou para 169 quando eu saí – o que significa que 90% das cidades já eram alcançadas pela energia, com ênfase nos investimentos em eletrificação rural.

O governo dele também foi muito bom para o saneamento e para a educação, em todos os níveis. Tenho orgulho de ter participado daquele governo. O grupo comandado por Alcides Abreu tinha cerca de 15 pessoas de diferentes áreas e setores, porque o governador abriu a participação para gente nova e empresários que até então nunca tinham encontrado espaço dentro da estrutura governamental.

Também sou um dos poucos remanescentes do Besc (Banco do Estado de Santa Catarina), que ajudei a fundar. Fui o funcionário número 6 do banco, e ali permaneci até voltar de Brasília para assumir meu cargo no Tribunal de Contas do Estado.

Com sua larga experiência, o senhor costuma ser procurado por políticos mais jovens para dar conselhos e consultoria?

Tenho muitos contatos, felizmente, mas não sou nenhum guru de políticos. Há uma diferença muito grande no modo de fazer política, comparando o meu tempo com os dias atuais.

Digo para as pessoas que elas não deveriam pedir a volta do regime militar, porque não conheceram a gravidade da situação durante aquele período. A grande exceção foi o presidente Ernesto Geisel, que deu início à reabertura política. Por outro lado, João Batista Figueiredo foi terrivelmente ruim para o país. De 1980 para cá, sabe-se como entrar na política, mas não se sabe como sair.

Hoje, há um caos muito grande na política. Todos os governos, incluindo os militares, tiveram corrupção, uns mais, outros menos.

Quer dizer que o modus operandi da política mudou muito desde então? Quem, no meio político, são os seus modelos?

Sim, o voto era dado pelo conhecimento e pela campanha do candidato, e nunca por dinheiro. Parei de concorrer quando o dinheiro passou a pesar demais nas campanhas. Esses exageros fizeram muitas pessoas de objetivos nobres deixarem a política.

Como candidato ao Senado, fui o mais votado em 169 dos 196 municípios de Santa Catarina. Perdi por cerca de 9 mil votos para Jaison Barreto.

Entre os grandes políticos com quem convivi estão Aureliano Chaves e Tancredo Neves – este, um homem afável e cordial. Acredito que o Brasil seria outro se ele tivesse sido presidente da República.

Como vê o momento político atual no Brasil? E o que fazer para reduzir as desigualdades e melhorar a qualidade de vida da população?

Temos muito a evoluir na política. A radicalização da última campanha presidencial foi absurda. Todos ficamos penalizados com o que aconteceu. Foi uma fase predatória, que gerou muitos desgastes. Tivemos surpresas desagradáveis nas redes sociais. E o pior é que não sabemos onde isso vai parar.

O Brasil só vai reduzir seus problemas sociais com mais empregos, o que vai gerar mais ganhos, com a reforma tributária, com tributos incidindo sobre a renda, e com mais oportunidades para todo mundo. Também precisamos de adequações no ensino e do controle da inflação.

O senhor conheceu muitos países, mesmo com algumas dificuldades de locomoção. Que lugares foram mais marcantes?

Já fiz mais de 100 viagens pelo mundo, a maioria a trabalho. Gostei muito de conhecer a China, o Canadá e a Austrália. Tenho um problema físico decorrente de uma poliomielite na infância. Até os 14 anos, caminhava me apoiando numa perna, e depois passei a usar bengalas. Hoje, utilizo uma cadeira de rodas para me locomover. Nada disso me impediu de conhecer o mundo.

Como turista, viajava por conta, sem agências, e sempre programei muito bem meus deslocamentos. Cheguei a dirigir em cidades como Nova York, Paris, Roma e Amsterdam.

Se pudesse voltar à política, a que daria prioridade?

Faria de novo o que realizei na carreira. Lembro das campanhas e dos amigos que fiz na minha região e arredores, em Concórdia, Joaçaba, Capinzal, Videira e Mafra, no Planalto Norte. Sempre tive um excelente relacionamento com meus eleitores. Há alguns segredos da boa política, e um deles é manter o respeito aos adversários.

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