Em Santa Catarina, a cultura indígena abre portas no ensino superior

A inclusão efetiva dos indígenas na sociedade brasileira e o reconhecimento de seu legado são temas que vêm à tona com mais ênfase no mês de abril, quando se comemora o Dia dos Povos Indígenas. E um aspecto que sempre merece destaque é o espaço que os indígenas vêm ocupando no ensino superior. Em Santa Catarina, as universidades oferecem cursos e oportunidades e permitem, assim, que membros dos povos originários possam acessar o conhecimento e o mercado com melhores condições de concorrer com os demais egressos às vagas de trabalho.

A Acafe (Associação Catarinense das Fundações Educacionais) e as universidades públicas dispõem de opções em licenciaturas e investem em pesquisas que têm os povos indígenas como foco. Neste mês, a Universidade Federal de Santa Catarina realiza eventos dentro do Abril Indígena UFSC 2023, que faz alusão ao movimento de luta “Abril indígena”, que ocupa Brasília todos os anos para reivindicar os direitos garantidos aos povos originários pela Constituição Federal de 1988.

Entre 2011 e 2021, matrículas de alunos autodeclarados indígenas no ensino superior aumentaram 374% – Foto: Divulgação/ND

A reitora da Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Luciane Bisognin Ceretta, que também preside a Acafe, ressalta que as instituições comunitárias acolhem jovens indígenas, investem na pesquisa e promovem uma rica troca cultural desses povos com os demais acadêmicos. “Como representante de uma universidade comunitária e plural como a Unesc, me sinto privilegiada por receber indígenas em nosso campus”, diz ela. “Fazemos questão de prestar o apoio necessário a eles, pois entendemos a dimensão da sua presença e a troca de conhecimento que eles nos proporcionam”.

Entre 2011 e 2021, a quantidade de matrículas de alunos autodeclarados indígenas no ensino superior aumentou 374%. De acordo com o centro de inteligência analítica criado pela entidade que representa as instituições de ensino superior no Brasil (Semesp), a rede privada respondeu pela maioria delas (63,7%), no período.

Programação

Na UFSC, o Abril Indígena começou no dia 31 de março discutindo os compromissos da universidade com as comunidades indígenas, as políticas públicas e a garantia de direitos para os povos nativos. Depois, ao longo do mês, houve palestras, mesas redondas, debates, apresentações artísticas e oficinas, em Florianópolis e nos demais campi da instituição, sobre o tema.

Nesta quarta-feira (19), Dia dos Povos Indígenas, o restaurante universitário do campus de Florianópolis oferece alimentação com base na culinária indígena. Na segunda-feira (24), outros eventos estão programados, como a reunião do grupo de trabalho sobre política e permanência indígena e quilombola no campus de Araranguá e rodas de conversa com estudantes indígenas no Horto Didático de Plantas Medicinais, na Capital. Em Joinville, durante todo o mês, a UFSC promove a exibição de curta metragens dentro do Ciclo Livre de Cinema Indígena.

Mestrado era sonho de jovem no Sul do Estado

O indígena Fabiano Alves, de 32 anos, formado em Pedagogia, sonhava fazer mestrado. A vontade começou a se tornar realidade em 2021, durante a pandemia, uma época em que o ensino a distância tomou o lugar do presencial. O estudante precisou de doses extras de esforço e uma ajuda especial da universidade para que pudesse seguir firme no propósito de estudos no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Unesc, no Sul do Estado.

Indígena da comunidade guarani Aldeia Tekoá Marangatu, de Imaruí, Fabiano recebeu a titulação de mestre após a defesa do trabalho “Nhandereko Yvyrupá Py: Modo de Viver Guarani na Terra Indígena Tekoá Marangatu”, que teve o propósito de mostrar a cultura, os costumes e as tradições do seu povo.

“Hoje, me sinto realizado por ter alcançado e concluído o tão sonhado mestrado”, diz ele. “Quero agradecer a universidade por abrir as portas para que eu pudesse frequentar e mostrar um pouco do meu conhecimento tradicional guarani por meio da escrita, da pesquisa e do meu trabalho”.

Unochapecó oferece desde 2009 o curso de Licenciatura Intercultural Indígena – Foto: Divulgação/ND

Bons exemplos na formação de professores

A Unochapecó (Universidade do Oeste de Santa Catarina) oferece desde 2009 o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, que busca integrar os conhecimentos acadêmicos à realidade cultural dos povos indígenas. O curso tem como principal diferencial a realização das aulas nas terras indígenas, facilitando o acesso e permanência dos estudantes. Nele já foram formados muitos professores capacitados para atuar nas escolas indígenas da região, disseminando a cultura para as próximas gerações.

No Vale Europeu, a Furb (Fundação Universidade Regional de Blumenau) também tem um curso inédito em Pedagogia Indígena Xokleng, que forma professores indígenas para atuar nas escolas da comunidade Laklãnõ/Xokleng em Santa Catarina. No Sul do Estado, a Unesc mantém o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, que desenvolve projetos e atividades voltados para o estudo e valorização da cultura afro-brasileira e indígena.

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