VOTE: Você é a favor ou contra a mudança do nome de Florianópolis?

Nossa Senhora do Desterro, Desterro, Florianópolis, Ilha da Magia, Floripa. Ao longo da história, nossa cidade recebeu vários nomes e apelidos. Governantes, moradores e turistas não poupam esforços para se referir à Capital com muito carinho.

Florianópolis tem este nome em homenagem ao marechal Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil (1891 – 1894). Mas até hoje, tal homenagem causa desconforto em muita gente, principalmente em estudiosos e historiadores que defendem a mudança no nome da cidade.

Desterro, Meimbipe e Y-Jurerê são alguns dos nomes da Florianópolis de antigamente – Foto: Ricardo Wolffenbuttel/Secom/Divulgação/ND

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Para entender o porquê da calorosa discussão entorno da mudança do nome de Florianópolis é preciso contar a história da Capital. Nesse desafio contamos com a ajuda de dois curadores do projeto Floripa 350, a escritora, socióloga e professora Lélia Pereira Nunes, e o escritor, jornalista e professor Laudelino José Sardá.

Nossa Senhora do Desterro

Os primeiros a pisarem por aqui foram os homens do sambaqui, há mais de 5 mil anos. Mas vamos nos ater a história mais recente, a partir do século 16, quando a Ilha começou a receber os primeiros barcos de expedições marítimas.

“Foi nesta época, em 1673, que o bandeirante Francisco Dias Velho chegou aqui com sua família, agregados e 500 índios ‘domesticados’ e deu origem a um pequeno povoado, onde hoje está a Catedral Metropolitana de Florianópolis. Foi ele quem batizou o local – que pertencia à cidade de Laguna – como Nossa Senhora do Desterro”, conta o professor Sardá.

“Dias Velho ficou pouco tempo à frente da Ilha”, destaca o professor.  Em 1686, o colonizador prendeu um grupo de piratas ingleses que estava carregado de pratas em águas catarinenses. Um ano depois, parte dos presos escaparam e resolveram se vingar. Eles invadiram a Ilha, executaram seu fundador e destruíram todas as benfeitorias.

Estátua e elevado Francisco Dias Velho, na entrada da Ilha – Foto: Foto Flavio Tin/Arquivo/ND

Dizimada, Nossa Senhora do Desterro foi deserdada pelos habitantes. Foram anos de grande abandono e miséria. Em 1720, Desterro tinha apenas 130 moradores. Foi um tempo de muita miséria e o povoado ficou abandonado por 23 anos até a chegada do navegador português Manoel Manso de Avelar.

Emancipação

Foi sob a tutela de Manuel Manso Avelar que essa terra foi elevada à categoria de vila em 1726, quando se emancipou de Laguna. Nessa época, a cidade passou a ser chamada de Vila do Desterro e foi criada a primeira Câmara Municipal.

Cerca de dez anos depois, devido à sua posição estratégica para o domínio português, o governo enviou para a Ilha o brigadeiro José da Silva Paes. Ele foi nomeado governador da Capitania de Santa Catarina, do presídio local e teve a missão de construir fortalezas para aumentar a segurança no porto.

Fortaleza de São José da Ponta Grossa, fica no Praia do Forte, no Norte da Ilha – Foto: UFSC/Arquivo/Divulgação

“Nesta época, havia conflito grande entre Portugal e Espanha. Foi daí que surgiu o Tratado de Tordesilhas. Por isso, o governo resolveu reforçar a segurança com os fortes. Mas os portugueses não conseguiram evitar a invasão espanhola na Vila do Desterro. A cidade ficou sob o poder espanhol por quase um ano até retomar à coroa portuguesa. Os espanhóis daquele tempo deixaram muitos herdeiros por aqui, que contribuíram com o desenvolvimento da Capital”, acrescenta o jornalista.

Professora Lélia lembra que foi Silva Paes quem iniciou as a construção da Casa do Governo, da Matriz, praças e deu o traçado urbano da cidade, criando casas ladeando e o mar em frente.

Quase cem anos depois a Vila do Desterro foi elevada à categoria de cidade, em 1823: “Foi quando Desterro passou por grande modernização política e cultural, com os preparativos para a recepção ao Imperador D. Pedro 2º, em 1845. Foi nesta época que a primeira rua da cidade foi calçada, em Santo Antônio de Lisboa, porque o rei não poderia aportar e pisar no chão de terra. O calçamento resiste até hoje”, segundo Lélia

Florianópolis

Anos mais tarde, com a Proclamação da República em 1889, as forças vitoriosas sob o comando do Marechal Floriano Peixoto determinaram a mudança do nome de Desterro para Florianópolis, em homenagem a esse marechal, em 1894.

 “O Brasil vivia um momento de revoltas, devido às mudanças. Era a Revolução Federalista (1893-1894). Por aqui não foi diferente. Muita gente desaprovava a mudança no sistema de governo e a forma do marechal – tido como mão de ferro – governar. Houve protestos e isso desagradou Floriano Peixoto que mandou prender os líderes da revolução”, explica a professora Lélia.

Foram 185 mortos, executados a tiros na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim. Entre as vítimas, estavam deputados estaduais e mesmo militares, como o Barão de Batovi – Marechal Manuel de Almeida da Gama Lobo Coelho d’Eça, que morreu abraçado a seu filho. O forte guarda até hoje as marcas dos tiros do episódio que ficou conhecido como chacina de Anhatomirim.

Fortaleza de Anhatomirim, tombada pelo Iphan em 1938 – Foto: Carlos Damião/Arquivo/ND

Outros nomes

Professora Lélia também cita que a Ilha teve outras denominações ao longo da história. Ilha dos Patos, Meimbipe e Yurerê Mirim foram alguns deles.

“A ilha foi conhecida como Ilha dos Patos pelas expedições que aportaram no século 16. Os índios carijós chamavam a Ilha de Meimbipe. Já Y-Jurerê era o nome dado ao canal que separa a Ilha do Continente. Os espanhóis no século 16 chamaram Baía de Los Perdidos devido ao número de náufragos aqui encontrados, como Aleixo Garcia, o descobridor do Caminho do Peabiru”, diz a professora.

Ela lembra de uma passagem nos anos 1970 em que esta discussão foi parar na academia. “Naquela ocasião, o curso de Direito da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) promoveu um grande júri simulado para discutir a mudança de nome de Florianópolis. Depois de muito embate, manteve-se o mesmo nome da Capital”, conta Lélia.

Floripa. É assim que a juventude da Ilha de Santa Catarina e os turistas chamam carinhosamente a cidade – Foto: Leonardo Sousa/Divulgação/ND

A curadora de cultura do Floripa 350 finaliza enfatizando que hoje “a juventude da Ilha de Santa Catarina, a vocação turística da cidade e o perfil descolado, irreverente do ilhéu, há muito adotou Floripa como o apelido carinhoso a este lugar de tantos encantos”.

Propostas do legislativo

Vira e mexe o tema volta a ser discutido na Câmara de Vereadores de Florianópolis. Uma das propostas foi indicada no projeto de lei 2.127/2002, que tinha como finalidade criar uma comissão para a realização de um concurso nacional sobre a história da escolha do nome da Capital. A matéria não andou muito e acabou sendo arquivada.

Mais recentemente, o vereador Afrânio Boppré apresentou o PL 17.395/18 que pretende denominar todo o conjunto de 31 ilhas e ilhotas incluindo a Ilha de Santa Catarina como Arquipélago de Ondina.

Ondina, segundo a etimologia, é um espírito da natureza que vive em rios, lagos e mares. Seria uma espécie de sereia, um gênio do amor, uma figura da imaginação poética. As ondinas aparecem em obras como “A Ondina do Lago”, de Teófilo Braga e em poesias do português Luís de Camões.

Segundo o vereador, reconhecer e nomear o arquipélago no qual a Ilha de Santa Catarina se encontra é um passo importante no sentido da preservação do patrimônio natural e da promoção de nossas potencialidades turísticas e culturais.  A matéria segue em tramitação na Casa.

Floripa 350

O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.

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