Mulheres criaram o primeiro bar do mundo, mas ainda enfrentam desafios como bartenders em SC

Uma história que teve começo há mais de 3.500 anos antes de Cristo. É até difícil de imaginar. Uma mulher foi a criadora do primeiro bar do mundo, localizado na cidade de Kish, antiga Suméria. A protagonista foi a Kubaba, uma destemida trabalhadora daquele tempo.

Primeiro bar do mundo foi criado por mulheres

Mulheres criaram o primeiro bar do mundo, mas ainda enfrentam desafios como bartenders em SC – Foto: Freepik/Divulgação/ND

Sob as luzes tênues das tavernas, como eram chamados os bares na época, as mulheres que trabalhavam arduamente para preparar as cervejas e manter o espaço agradável para todos os clientes, que também encontravam caça e hospedagem no local.

No entanto, com o passar do tempo, a atividade passou a ser vista como imoral e imprópria para o sexo feminino. No século XVI, o progonismo das mulheres já havia desaparecido e o termo “barman”, exclusivo para homens, havia roubado lugar das criadoras da profissão.

Uma esperança de mudança só foi surgir nos anos 80, quando finalmente apareceu o termo “bartender”, que agora era uma palavra unissex para chamar qualquer indivíduo que trabalhava atrás do balcão.

Elas voltaram para o bar, mas ainda lutam por reconhecimento

Em pleno 2023, apesar de uma melhora significativa, parece algo absurdo acreditar que algumas pessoas ainda acreditem que a capacidade de fazer um bom drink esteja diretamente relacionada ao gênero.

Só que elas persistem e resistem. Treinam, estudam, se especializam e retomam, dia após dias, o espaço criado por elas e delas por direito. Em busca do respeito em uma carreira que se tornou quase que predominantemente masculina.

“Sofremos muito com assédio e pressões diárias dentro e fora do ambiente de trabalho, mas percebo que empresários tem observado e agido para uma mudança. As mulheres tem ganhado espaço também ao assumirem papéis de coordenação e chefia e muitas estão caminhando para o empreendedorismo”, explica a bartender, parceira da destilaria catarinense Kalvelage, Wakana Morishita.

Morishita trabalha em bar

Morishita sempre se interessou pela arte de harmonizar bebidas e comidas e, uma viagem, descobriu sua vocação: a coquetelaria — Foto: Divulgação/ND

Wakana, moradora de Blumenau, no Vale do Itajaí, nasceu no Japão, mas foi criada no Brasil. É uma mulher multifacetada, mãe, bióloga por formação, atuou por mais de uma década em indústrias têxteis, químicas e mecânicas, como gerente ambiental.

Ela cresceu em um ambiente repleto de experiências gastronômicas, já que sua família possuía um restaurante. Sempre se interessou pela arte de harmonizar bebidas e comidas e, uma viagem, descobriu sua vocação: a coquetelaria. Desde então, Morishita estudou muito para se tornar uma profissional de renome e já passou o exemplo para o filho, que decidiu seguir o mesmo caminho.

“Meu filho tinha 10 anos quando me separei. Quando ele completou 12 anos, passei a atuar como bartender. (…) Como era muito caro consumir bebida alcoólica no Brasil, eu mesma decidi estudar essa área para preparar meus drinks em casa”, relembra.

As mulheres bartenders, conscientes de que a união faz a força, buscam sempre se apoiar – Foto: Divulgação/ND

Ela contou com uma base familiar sólida em todo o processo de profissionalização. “Tive apoio de muita gente, da família, de amigos, da madrinha e da avó principalmente, que me ajudavam quando precisava ficar no trabalho até tarde da noite. Com os anos, meu filho foi ganhando autonomia, ficando sozinho em casa, mais tarde, passou a fazer alguns trabalhos comigo. Hoje ele também é bartender”, conta com orgulho.

“É necessário sempre dar mais de si e entregar mais”

Mesmo sem medo de enfrentar os desafios da profissão, as bartenders sabem que ainda têm muito a conquistar quando se trata de igualdade no mercado de trabalho.

“É necessário sempre dar mais de si e entregar mais do que os homens. Isso está mudando lentamente, mas as mulheres ainda não têm a mesma remuneração que os homens ou ainda são substituídas no momento de assumir cargos de maior responsabilidade”, ressalta Wakana.

As mulheres, conscientes de que a união faz a força, buscam sempre se apoiar e costumam ser solidárias nas redes sociais para trocar experiências e se ajudarem mutuamente.

Elas sabem que precisam continuar a escrever a história iniciada por Kubaba e lutar para que o pioneirismo das mulheres no universo das bebidas nunca seja esquecido ou minimizado. Afinal, igualdade de gênero não é modismo, é um direito inalienável de todas as mulheres que seguem a luta por um lugar ao sol.

Morishita estudou muito para se tornar uma profissional de renome – Foto: Divulgação/ND

“É de enorme importância a formação de coletivos de apoio em diversos níveis (como o Coletivo Ada Colleman), grupos de Whatsapp, entre tantos outros para o fortalecimento e também a percepção de que não estamos sós no caminho. Uma apoia a outra na jornada”, finaliza Wakana.

Bebida “Donas da P* Toda” faz sucesso em SC

Moradora de Blumenau há cerca de quatro anos, Thays Paiva atua como chef de bar, além do desenvolvimento e assinatura da carta do Hortus Bar, também da região de Blumenau.

Thays Paiva atua como chef de bar — Foto: Divulgação/ND

“Eu também ministro cursos de bartender. É uma profissão que tem atraído cada vez mais os brasileiros, seja por profissão ou passatempo”, pontua Paiva.

Em uma ação especial para o Dia das Mulheres deste ano, decidiu criar, em parceria com um podcast dedicado ao universo feminino chamado “Donas da P* Toda”, um drink batizado com o mesmo nome do podcast e, que remete muito sobre a história da profissão.

A criação conjunta fez tanto sucesso que o bar onde era vendido o drink decidiu estender a ação para além da data oficial.

Em uma ação especial para o Dia das Mulheres deste ano, Paiva decidiu criar, em parceria com um podcast dedicado ao universo feminino – Foto: Divulgação/ND

“Ainda existe um certo preconceito por parte de alguns homens que acham estranho uma mulher preparando os drinks ou falando com propriedade sobre destilados, mas graças ao empenho das mulheres bartenders ou de outras áreas em apoiar o trabalho umas das outras nós, estamos conseguindo destaque no setor”, conclui Paiva.

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