‘Escolhi o jornalismo por causa da indignação’, diz Eduardo Ribeiro, âncora do Fala Brasil

“O jornalismo local, que conta a história das pessoas, próximo delas e faz outras pessoas se enxergarem na história, é o jornalismo que eu gosto de premiar”. Para o jornalista Eduardo Ribeiro, estes são alguns requisitos de reportagens que devem ser premiadas.

Em Florianópolis, Eduardo Ribeiro participa do lançamento do 3º Prêmio ACI/Ocesc de Jornalismo – Foto: Leo Munhoz/ND

Natural de Curitiba (PR), Ribeiro é o âncora do Fala Brasil, jornal matutino da Record TV, ao lado de Mariana Godoy. Nesta entrevista, depois de passar por rádio, sites, impresso e chegar à TV, ele fala dos 25 anos de carreira, das coberturas mais marcantes e analisa o jornalismo nacional.

Na Capital catarinense nesta terça-feira (6), Edu fará uma palestra na sede da ACI (Associação Catarinense de Imprensa) no lançamento do 3º Prêmio ACI/Ocesc de Jornalismo.

Por que escolheu o jornalismo e por que permaneceu nele?

Hoje, olhando para trás, percebo que escolhi esse ofício por causa da indignação. Ao longo da vida, nos acostumamos a ver uma, duas, três vezes e o jornalista passa a ter o olhar treinado para não se acostumar com a mazela, para denunciar e reforçar essa denúncia diariamente.

Minha formação foi muito calcada no jornalismo investigativo, na denúncia e na busca por transformações. Jornalismo não é um quarto poder, é uma oportunidade de jogar luz em cima de assuntos que não estão sendo discutidos.

Você fez impresso, rádio, internet e TV. Qual plataforma gosta mais e por quê?

O ao vivo é o que me encanta. A oportunidade que você não tem de fazer duas vezes e isso o rádio dá com maestria. Começar na rádio é uma enorme escola para fazer qualquer outra coisa.

Comecei com 17 anos e com a oportunidade de criar um programa que era pautado exclusivamente pelo ouvinte. O ouvinte decidia o que ia ouvir no dia seguinte e era um programa dedicado a política e cidadania.

Eduardo Ribeiro concedeu entrevista para a TV, o impresso, o portal ND+ e ainda gravou para as redes sociais do Grupo ND – Foto: Leo Munhoz/ND

Esse começo foi fundamental para eu trilhar todos os outros caminhos. Chegando em São Paulo, você percebe que é difícil estar em três tipos de veículos diferentes, é preciso se dedicar a um deles.

Ainda que eu tenha saudades de rádio, internet e impresso, a oportunidade de traduzir o momento, de descomplicar no ao vivo, me representa.

Qual foi a cobertura ou o trabalho mais marcante da sua carreira?

Venezuela e Haiti foram extremamente marcantes, porque lidei com a miséria, com a necessidade de transformação, fraudes, oportunismo, uma série de denúncias e uma enorme fragilidade no tecido social desses lugares.

Mas costumo dizer que a melhor cobertura é sempre a próxima. Estou sempre me perguntando qual vai ser o próximo grande assunto que vamos trazer.

Nunca vou me esquecer da Boate Kiss, estive lá poucas horas depois do começo da emergência, acompanhei alguns resgates e passei uma semana lá, depois, em Santa Maria (RS). Fomos o primeiro telejornal a ser transmitido ao vivo de lá, o Jornal da Record, depois do crime.

Depois, Brumadinho, Mariana e, nesse meio tempo, o maior desastre natural do Brasil em número de mortos, o desastre da Serra Fluminense, em 2011. Foram coberturas trágicas, que me ensinaram muito e marcaram o trabalho do jornalismo feito ao vivo.

Como está sendo a experiência no Fala Brasil?

Estou muito feliz. Esse jornalismo mais próximo do balcão da padaria, da loja de carros, do armazém, do senhorzinho, é o que me encanta. É o assunto da roda de conversa, do dia a dia. A Record tem esse talento, essa missão de descomplicar assuntos bem pertinho das pessoas.

O Fala Brasil tem essa missão de, todos os dias, rodar o país com o que de mais importante está acontecendo naquele instante. A notícia ao vivo tem total prioridade. É um telejornal completamente imprevisível. É planejado, mas é totalmente transformado pela notícia.

Quando acordamos cedinho e vemos que algo grave aconteceu em Florianópolis, no interior gaúcho, ou nos rincões do Norte e do Nordeste brasileiro, a notícia precisa parar, para receber o espaço merecido. Essa é a função do Fala Brasil e por isso estou muito feliz lá.

Como está o Jornalismo brasileiro? Você vê com bons olhos o que a grande mídia nacional produz?

O holofote das redes sociais e esse tribunal da internet, que vivemos hoje, em que tudo que é dito, o escrutínio é imediato e, por vezes, você precisa explicar o que quis dizer, não apenas dizer o que disse, é o grande diferencial do tempo que vivemos e o jornalismo se insere nele.

A matéria de jornal, que é publicada, vai gerar errada, complemento e debate, se não for extremamente bem feita.

O versátil Eduardo Ribeiro, 25 anos de carreira, durante entrevista na sede do Grupo ND – Foto: Leo Munhoz/ND

Aumentou – e muito – a nossa responsabilidade em termos do que chamo de tribunal da internet. Todos estamos sendo julgados pelo caminho que fizemos, pelas escolhas que tomamos e por aquilo que dissemos.

Não à toa, em 2022, no Brasil, 1.650 jornalistas foram responsabilizados solidariamente por erros que suas reportagens trouxeram. Não basta apenas a errata, seremos responsabilizados cível e criminalmente pelos erros que cometemos.

É necessário que a academia produza bons jornalistas e que a rua forme esses jornalistas na prática.

Quais são os requisitos de uma boa matéria? O que ela precisa para competir numa premiação?

Aquela que pensou fora da caixa e não trilhou o mesmo caminho das outras. Os assuntos são os mesmos. Desde a Roma Antiga existe fraude, corrupção, mazela, um passando o outro para trás, belezas culturais, lugares a serem conhecidos, mas como tratar isso? Esse é o diferencial!

Quando você toca um assunto de maneira inovadora, ou com oportunidades diferentes para aquele que consome a informação, você chama atenção para se destacar. O jornalismo local, que conta a história das pessoas, próximo delas e faz outras pessoas se enxergarem na história, é o jornalismo que eu gosto de premiar.

 

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